1 .Conceito
Termos como redução do impacto da pegada de carbono, capitalismo de stakeholders e Governança Socioambiental vem ganhando muito destaque, tanto no mundo empresarial quanto na mídia, atualmente.
Juntamente às mudanças sociais e ambientais, mudaram os riscos e as pressões de mercado e perfil dos consumidores. Então, com isso em mente, é preciso que as empresas se atentem aos novos riscos corporativos que surgem constantemente.
Nós já explicamos aqui o conceito por trás da sigla “ESG” (Environmental, social and Governance), ou em sua tradução, Ambiental, Social e Governança (ASG), que pode ser entendida como um conjunto de ações e métricas nas práticas empresariais que visam critérios sustentáveis. Em síntese as medidas ESG se pautam nos seguintes pilares:
- Environmental ou Ambiental: a letra E da sigla, diz respeito às práticas corporativas que a empresa pode adotar, voltadas ao meio ambiente, por exemplo, debate sobre aquecimento global, diminuição da emissão de carbono, gestão de resíduos, entre outros.
- Social: está relacionado à responsabilidade social da empresa e às medidas que poderão ser adotadas para garantir que boas práticas neste pilar serão implementadas, como respeito aos direitos humanos e às leis trabalhistas, diversidade da equipe, segurança no trabalho, proteção de dados e privacidade e satisfação de clientes, por exemplo.
- Governance ou Governança: é o pilar que trata dos sistemas organizacionais entre os diversos atores responsáveis pela estratégia e gestão das corporações. Para garantir que a empresa tenha uma boa Governança Corporativa, devem ser implementadas práticas de transparência e reporte, organização societária, ética e integridade e, inclusive, a inclusão do ESG na estratégia e gestão da organização.
2. O Impacto do ESG no Mercado Financeiro.
Assim como o ESG vem ganhando maturidade na pauta empresarial, no mercado financeiro ocorre o mesmo movimento. As demandas por boas práticas de sustentabilidade socioambiental nunca estiveram tão presentes e ativas no mundo do mercado financeiro quanto na atualidade, que apesar de ser uma agenda já debatida há algumas décadas, hoje é vista como parte conjunta e não paralela ao modelo de negócios.
Um dos indícios dessa centralização das pautas ESG no mercado financeiro é pode ser notado pela reestruturação normativa trazida pela Resolução do Conselho Monetário Nacional de n° 4.945 de 15/9/2021. Nela, fica regulamentado que determinados segmentos de instituições autorizadas a funcionar pelo Banco Central do Brasil devem realizar a gestão e prevenção de seus riscos socioambientais por meio de uma Política de Responsabilidade Social, Ambiental e Climática (PRSAC).
Assim, a agenda ESG passa, cada vez mais, a ser tratada como um fator indispensável para geração de valor e segurança aos investidores e parceiros. Grandes players como, Mastercard, Nubank e Itaú já possuem programas altamente reconhecidos e medidas em ação para o tratamento desta pauta, como o hub de startups criado pelo Itaú em 2015, “Cubo” que lançou, recentemente, uma nova área voltada especificamente para companhias que desenvolvem soluções na área de padrões ambientais, sociais e de governança (ESG, na sigla em inglês).
2.1. ESGtechs, o que são?
Para além do mercado financeiro, a pauta ESG atualmente causa uma grande revolução no mercado das Fintechs, com o surgimento das “Fintechs Sustentáveis” ou “ESGtechs”, tal movimentação já fora percebida pelo presidente da Associação Brasileira de Fintechs (ABFintechs) que avalia que “As Fintechs ESG são uma tendência no mercado brasileiro de startups e com enorme potencial”.
Assim, entende-se como ESGtech, a Fintech cujo segmento de negócios seja pautado em prestar serviços inovadores, de natureza financeira, porém possuindo como base de seu modelo de negócios uma solução tecnológica alinhada com uma solução para resolução de problemas socioambientais. Exemplos de segmento de atuação das Fintechs sustentáveis que podemos observar hoje são, o mercado de compra de crédito de emissão de carbono, Fintechs que priorizam segmentos vulnerabilizados da população como público-alvo para concessões de crédito e até mesmo soluções de financiamento focados em projetos de baixo impacto ambiental.
2.2 Como o ESG pode auxiliar as Fintechs no Mercado de Crédito e Investimentos
Por outro lado, ao adotar medidas ESG, as Fintechs tradicionais também podem ser beneficiadas de diversas maneiras, principalmente no que diz respeito à maior segurança ao prestar serviços relacionados à concessão de crédito e no momento de captar investimentos.
Atualmente, a concessão de empréstimos vinculados a ESG é um dos segmentos de crescimento mais rápido do mercado de crédito corporativo. Isso ocorre devido a maior segurança no momento da concessão, já que empresas que adotam critérios ESG, normalmente estão menos expostas a riscos socioambientais, que por sua vez, estão diretamente ligados aos riscos de liquidez e operacionais.
Já no que diz respeito a maior facilidade e captação de investimentos, em julho de 2021, foi lançado o relatório 2020 da Global Sustainable Investment Alliance, nele estima-se que o investimento global sustentável tenha aumentado cerca de 15% entre 2018 e 2020.
3. O que a sua Fintech pode fazer para atender aos critérios de ESG hoje?
Apesar de não possuir um padrão único de adoção de medidas de ESG, as Fintechs devem sempre se atentar em implementar medidas que realmente tenham fit cultural com a identidade da empresa, para evitar ao máximo a caracterização de práticas de greenwashing.
Além disso, é importante estabelecer metas socioambientais e de governança de médio e longo prazo e sempre garantir que sejam devidamente cumpridas. Realizar o levantamento de suas emissões e gestão de resíduos, investir no relacionamento com clientes e parceiros, além de implementar políticas de governança e transparência claras e objetivas.
Para formalizar as medidas e reportar à sociedade, investidores e parceiros suas métricas de ESG, as Fintechs podem utilizar Relatórios ESG ou de Sustentabilidade.
Os Relatórios ESG são documentos publicados anualmente pelas empresas que formalizam e reportam com dados os objetivos e estratégias da Fintech nos campos social, ambiental e de governança, documentam o processo de gestão de riscos socioambientais e podem contar até mesmo relatórios financeiros e demais informações que informações que permitam aos investidores e stakeholders analisarem as informações sobre o desempenho ESG de maneira estratégica.
4. Quais os Benefícios de Adequar sua Fintech às Medidas ESG?
Grandes players de mercado, como bancos e instituições financeiras já adotam critérios ESG internamente e assim como ocorreu com o compliance regulatório e anticorrupção, as Fintechs que não adotam as medidas podem ter prioridade no momento de fechamento de parcerias estratégicas.
Além disso, como foi mencionado, o reporte de medidas ESG e a adequação da Fintech a critérios sociais e ambientais, além de demonstrar a organização interna da empresa, demonstram também uma sustentabilidade de longo prazo, dos negócios, o que pode ser muito atrativo aos olhos dos investidores.
Por fim, Fintechs que se estruturam de maneira que gerenciam seus riscos sociais, ambientais e de governança estão mais aptas a enfrentar desafios futuros e estabelecer planos de contingência para lidar com possíveis eventos de impacto negativo para seus negócios.
5. Conclusão
Tendo em vista todo o exposto, é inegável a importância de adequar a sua Fintech frente às novas mudanças trazidas pela visão de ESG. Traçar metas e reportar as medidas de Governança socioambiental da empresa por meio de um Relatório de sustentabilidade é fundamental para comprovar o compromisso com esta agenda. Portanto, é fundamental a realização de acompanhamento jurídico especializado para auxiliar sua Fintech desde o estabelecimento de uma boa Governança Socioambiental, até a elaboração de Relatórios para reportar suas métricas de ESG.
Por Luiza Queiroz