Semanalmente publicamos artigos no blog com o objetivo de esclarecer dúvidas práticas de empreendedores. Diversas dúvidas societárias já foram esclarecidas em artigos, vídeos e ebooks como esses aqui, aqui e aqui. O artigo de hoje é uma sugestão de solução para uma situação super comum em negócios novos ou que passam por mudanças do quadro de sócios.
Quanto eu devo oferecer de participação (%) para meu cofundador/sócio?
Para essa resposta, existem diversos pontos a serem considerados a depender da realidade do negócio, das partes envolvidas e das perspectivas profissional de cada uma delas e do próprio negócio.
O problema das premissas.
Na maioria das vezes essa análise parte de uma premissa de que as participações não devem ser iguais, porque existem motivos “racionais” que justificam isso. Os motivos mais comuns que levam a essa premissa são:
- A ideia do negócio foi minha;
- Eu comecei a trabalhar primeiro que ele no negócio ou eu fiquei meses 100% dedicado e ele não;
- Eu tenho mais experiência nesse mercado e meu custo de oportunidade é maior;
- Eu coloquei dinheiro no negócio e ele não;
- Se tivermos percentuais iguais, podemos ter problemas para tomar decisões difíceis.
Todos esses motivos são razoáveis da perspectiva do fundador e a depender do caso até de quem analisar externamente a situação para emitir alguma opinião.
A verdade dura de um negócio: longo prazo custa caro.
Um negócio, mais especificamente uma startup, leva anos para estar maduro e sustentável a ponto de remunerar os sócios com lucros relevantes ou, eventualmente, atrair um terceiro interessado na aquisição de toda a operação, o famoso evento de liquidez.
Podemos dizer que um negócio de sucesso dificilmente será construído em menos de 7/8 anos. Claro, vão sempre existir exceções, mas não parece razoável se basear nelas.
Abaixo temos dois dados do Carta que ajudam a mostrar isso.
O primeiro traz o tempo de cada estágio de captação de investimentos. Como as startups geralmente captam a partir de algumas metas atingidas, pode-se imaginar que uma startup “validada” e em expansão de mercado está entre um Seed e uma Série A. Isso levará algo entre 4 e 5 anos.
O segundo dado mostra o percentual de startups que são adquiridas ao longo das rodadas de captação de investimento.
Nesse sentido, nota-se que o evento de liquidez ocorre em um percentual muito pequeno de negócios.
A grande maioria precisa caminhar com as próprias pernas em algum momento ou passar 10 anos ou mais para ter uma probabilidade maior de venda do negócio.
Como definir a participação do meu cofundador/sócio?
Primeiro, a sugestão é analisar o momento do negócio.
Um negócio que está no seu(s) primeiro(s) ano(s) deve depender muito dos sócios no dia a dia por alguns bons anos.
Nesse sentido, os sócios precisarão estar alinhados, confortáveis com suas participações de longo prazo e motivados para o retorno futuro que todo aquele trabalho pode trazer.
A participação ofertada tem que maximizar a motivação dos sócios e não o contrário.
Ainda, existem diversas formas de se mitigar o risco de ofertar muito percentual para um sócio pouco competente, sendo as mais comuns os mecanismos de cliff, vesting e lock-up que falamos em matérias anteriores.
Além disso, a sugestão é que sempre avalie o prejuízo de ter participações societárias iguais ou quase iguais entre os sócios que estão começando o negócio ou que precisarão ainda passar anos e anos juntos para fazer o projeto prosperar.
Isso irá ajudar muito no alinhamento de longo prazo, na motivação por melhores resultados para a empresa e no foco por maximizar receitas e minimizar despesas/custos desnecessários. É a famosa “pele em risco” que o mercado adora utilizar atualmente.
Nos casos em que participações igualitárias não sejam razoáveis por algum dos motivos citados no início do texto, busque sempre olhar pela perspectiva de utilizar a participação como mecanismo positivo para motivação.
O cenário ruim é aquele em que existe a sensação de que o novo sócio tem de se provara todo o tempo para ser, eventualmente, agraciado com a participação que deveria ser dele desde o início pelo papel que exercia no negócio. Isso acaba por fragilizar uma das maiores necessidades de uma sociedade, a confiança.
Conclusão.
Dito tudo isso, creio ter ficado claro que não existe uma calculadora perfeita que você irá incluir algumas regras e ele vai retornar um percentual assertivo e inegociável a ser ofertado ao novo sócio. Pode acreditar, se existisse não teríamos tantos clientes que passaram por essa situação e tiveram de quebrar a cabeça para chegar ao melhor cenário possível.
Entretanto, existem mecanismos jurídicos que podem evitar surpresas como citei acima e garantir uma clareza/alinhamento de longo prazo entre todos os sócios.
De toda forma, o que não deve deixar de considerar sempre é consultar um profissional que você confie e que tenha tido experiência em situações do tipo para poder analisar seu cenário sem o viés habitual de um fundador, te ajudando a achar o melhor cenário prático e racional para seguir em frente com um novo sócio alinhado, motivado e disposto a ficar anos na operação ajudando no sucesso do projeto.
Por Luiz Eduardo Duarte