Investimento em Startups. 3 – Valuation. Como definir o valor de mercado de uma startup.

Esse é o 3º artigo de uma série sobre investimento para startups que escrevemos para ajudar empreendedores e investidores a entender um pouco mais sobre o mercado de capital para startups no Brasil. Os artigos foram escritos tendo como base nossos estudos e nossa experiência dos últimos 5 anos nesse ambiente, passando por várias negociações dos dois lados da mesa.

Você pode ler os dois anteriores, sobre o momento de buscar investimento e sobre os principais contratos aqui e aqui respectivamente.

O tema do artigo de hoje é provavelmente o mais complexo e, sem sombra de dúvidas, o mais questionado por empreendedores que começam a pensar em investimento para sua empresa: valuation.

Afinal, como faço para calcular o valor de mercado da minha startup?

Pensando nisso vamos dividir o texto em 2 partes. Falaremos primeiro sobre alguns métodos, de forma objetiva e, em seguida, falaremos sobre algumas dicas de negociação do seu valuation na prática.

• 5 métodos de cálculo de valuation:

1) Valor Patrimonial

Esse é o método mais objetivo que o mercado utiliza. Está descrito no Código Civil como forma de cálculo para quitação dos valores de quotas de sócios, por exemplo.

Pelo Valor Patrimonial, somam-se todas as contas dos ativos circulantes (dinheiro em caixa, créditos futuros, etc.) e não circulantes (imóveis, máquinas, equipamentos, etc.) e subtrai-se as dívidas e outras obrigações presentes em seu passivo circulante e não circulante (dívidas trabalhistas, fiscais, cíveis, com fornecedores, empréstimos etc.).

Resumindo, pelo Valor Patrimonial você tira uma foto da empresa, analisando seus ativos e débitos e chegando ao resultado final que será o valuation.

2) Fluxo de Caixa Descontado (DCF – Discounted Cash Flow)

O DCF é sem dúvida o método que mais vemos ser definido como solução para valuation de empresas em geral atualmente, mas isso não significa que deve ser pensado sempre para startups também.

Aqui vale o alerta sobre a chamada "taxa de desconto" que é utilizada no cálculo desse método. Ela se baseia no custo para trazer ao valor presente aquela quantia que só seria obtida no futuro. Essa taxa de desconto é calculada por meio de uma fórmula pré-definida que sofre variações a depender do mercado em que a empresa está atuando.

Nesse sentido, com esse método de Fluxo de Caixa Descontado geralmente se utilizam três etapas e uma projeção da riqueza a longo prazo, a qual, como dissemos anteriormente, também pode variar de acordo com o mercado que o negócio atua, por exemplo. Basicamente, para o DCF deve-se:

• Analisar e calcular o fluxo de caixa, ou seja, quanto dinheiro a empresa gera em cada ano após descontar todas as despesas;

• Definir a taxa de desconto de acordo com as oportunidades de investimento semelhantes ou não e os riscos inerentes à atividade que a empresa exerce naquele mercado específico. Esse é o fator que mais influencia na variação de valores, porque tende sempre a ser subjetivo;

• Após as duas etapas, calcula-se o valor de todos os fluxos para o momento presente, utilizando modelos matemáticos que são bem conhecidos por empresas de auditoria e contabilidade.

3) Avaliação por Múltiplos

A Avaliação por Múltiplos utiliza o valor de uma empresa que atua preferencialmente no mesmo mercado e que permita, por meio de comparações mais simples, identificar qual seria um valor razoável para o negócio.

Essa forma de valuation é bastante utilizada hoje com algumas startups, tendo como base a etapa de crescimento que ela está. Por exemplo, se sua empresa está iniciando, ainda sem encontrar exatamente o product market fit, e busca um investimento anjo, é natural que se enquadre em uma base de no máximo R$1.5 milhões como pré-aporte.

4) Receita Anual Multiplicada

Acredito que a própria nomenclatura já deixa claro esse método. Basicamente pela Receita Anual Multiplicada, faz-se a soma total da receita dos 3 últimos exercícios da empresa e, com base no mercado que ela atua, nos concorrentes e na tese de investimento de quem irá aportar os valores, multiplica-se a receita por um número “x” chegando-se ao valuation.

Essa forma de cálculo é pouco utilizada hoje no mercado brasileiro e pode ser considerada por muitos uma forma preguiçosa de se calcular valor de mercado, principalmente para startups que na maioria das vezes não têm nem 3 anos de mercado.

5) Rounds Anteriores

Separamos “Rounds Anteriores” para o final, porque não é um método para se calcular o valor da empresa propriamente dito, mas é indispensável que os empreendedores tenham em mente essa regra de ouro.

Caso o negócio já tenha recebido investimento anterior, deve-se interpretar que a melhor prática é que valuation não seja inferior àquele que justificou o primeiro investimento. Trazendo para o caso real, se uma empresa recebe R$100 mil reais por 10% dela, seu valuation foi de R$1 Milhão pré-aporte. Logo, não deveria aceitar receber um investimento de R$21 mil por 3% do seu negócio, pois estaria diminuindo o valuation para R$700 mil, por exemplo.

Claro, sabemos que nem sempre o que se deve fazer é igual ao que se pode fazer e talvez o empreendedor tenha que aceitar uma diminuição do valor da empresa para não vir a falência. Entretanto, nossa intenção é alertar o empresário que, a partir do primeiro investimento, todas as próximas rodadas terão como base aquele primeiro cálculo.

Portanto, expostos esses 5 métodos, vamos passar rápido para o outro tópico.

• 3 dicas do momento de negociar o valuation da sua startup com investidores.

1) Como apresentar o seu valuation aos investidores?

Existem muitos materiais de renomados investidores ensinando como fazer um bom pitch deck, como se portar e quais as melhores formas de justificar o valor de investimento que você quer para o seu negócio. Você pode ver alguns aqui, aqui e aqui, por exemplo.

De qualquer forma, a regra máxima que notamos é que para ter sucesso em uma negociação o empreendedor precisa ser o mais bem informado da mesa e também o mais perspicaz.

Nessa lógica, sendo o mais bem informado você saberá quais investimentos já foram feitos por quem está negociando contigo e, sendo o mais perspicaz, será capaz de antecipar a proposta do investidor e fazer uma das técnicas mais comuns em negociações: ancoragem.

É inteligente você ancorar o valor de investimento em uma base que você acredita fazer sentido e que você sabe que o investidor já fez investimentos semelhantes antes. Isso dará uma base para a negociação e deixará claro ao investidor que ele deve pensar em algum valor a partir daquilo para seguirem em frente.

2) Inclua todos os investidores no seu próximo round.

O mercado brasileiro de investimento ainda está se desenvolvendo e é bem natural que os investidores profissionais se conheçam bastante e troquem informações e experiências uns com os outros.

Por isso, jamais deixei um investidor de um round anterior de fora de sua próxima rodada.

Fazer isso vai dar uma péssima impressão ao investidor do round atual, porque ele vai pensar: “Se ele está tirando o investidor anterior agora, amanha pode ser que me tire numa rodada futura e mais interessante”.

Ainda, os investidores sabem que devem se encontrar em outros investimentos, então é sempre importante que eles consigam manter boas relações. Excluir um investidor de uma rodada é criar desconfiança e stress para todos os envolvidos.

Só faça isso se for um pedido expresso do próprio investidor do round anterior e torça para que ele tenha um fundamento que não prejudique a sua imagem perante os novos investidores.

3) Sinais de que o investimento pode ser ruim para o negócio.

Não temos receita de bolo aqui, mas até aqui, nesses 5 anos de trabalho, notamos alguns sinais de quando um investimento pode não ser uma boa ideia para a sua empresa, seja ela uma startup ou não.

  • Investidores sem histórico. Geralmente querem tirar o dinheiro no meio do caminho ou te cobram por resultados em um curtíssimo prazo.
  • Mais de 5 investidores em uma rodada. Claro que se você estiver tratando com fundos de investimento a lógica pode ser diferente, mas ter mais de 5 investidores-anjos em uma rodada geralmente gera uma obrigação de definir quem vai ser o investidor ao qual vocês vão reportar atualizações. Não se deixe levar pela lógica de levantar R$100 mil reais com 50 investidores.
  • Investidores iniciais que exigem veto. Cláusula de veto é um dos termos mais relevantes em uma negociação de investimento. Não ceda veto para investidores iniciais, se puder negociar outros benefícios. Isso provavelmente vai te custar muito caro no curto e no longo prazo com outras rodadas.
  • Falta de ética. Esse é o último e mais importante. Conheça quem está investindo no seu negócio e entenda se ele está sendo transparente e ético com você desde o início. Investimento é uma dívida que você paga com parte do seu sonho/negócio. Não ceda isso para investidores que você não tenha alinhamento de valores e princípios éticos, porque os bons investidores também não fariam investimento com empreendedores sem ética.

Esse são os pontos que separamos para tratar de um dos temas mais relevantes para startups hoje, valuation ou valor de mercado.

Acabamos extrapolando um pouco e falando também do ponto de vista negocial, mas acredito que não faria sentido tratar do assunto sem entrar nesses tópicos para alguma reflexão menos metódica de como se dão os investimentos hoje em um ambiente tão aquecido como das startups no mundo.

Espero que tenhamos ajudado você a entender mais sobre o assunto, mas não deixe nunca de ter um profissional de sua total confiança te ajudando e te orientando durante todo o processo. No final do dia a decisão continuará sendo sua, mas ter as melhores informações disponíveis com certeza te ajudará a tomar as melhores decisões.

* Como bônus, aos que tiverem interesse ou simples curiosidade, segue um link de uma calculadora de valuation que pode ajudar a ter uma noção básica de quanto valeria teu negócio (nos padrões americanos, ok?): https://www.caycon.com/valuation.php

Por Luiz Eduardo Duarte